190 - Sob Pressão
- Rafael_Fera
- 22 de jan.
- 6 min de leitura
"O que há com essas flechas?", questionou um cultivador, consternado.
"Nem cultivadores do Núcleo Espiritual conseguiram bloqueá-las com suas energias", disse outro, com os olhos cheios de medo.
A energia de um cultivador do Núcleo Espiritual era incrivelmente densa e poderosa; era simplesmente impossível para flechas comuns atravessá-la. Na verdade, até alguns cultivadores do Reino da Condensação não eram capazes de rompê-la.
Isso só mostrava o quão aterrorizantes aquelas flechas eram e que estavam longe de serem normais.
"A pessoa que criou esse lugar era realmente sinistra!", disse Maria.
O ancião que estava ao lado dela assentiu. "Sim, claramente tinha a intenção de matar quem entrasse aqui."
"Nós estamos invadindo sua casa, afinal", disse outro cultivador.
Todos ficaram um pouco sem jeito. Isso era verdade, mas não achavam que estavam fazendo algo errado. Afinal, o dono desse lugar já devia estar morto há muito tempo; logicamente, as coisas ali pertenciam a quem tivesse a capacidade de consegui-las.
Chu Ju riu de repente. "Se esse lugar é tão perigoso e cheio de armadilhas, significa que deve haver algo valioso guardado aqui."
Os olhos de todos brilharam; as palavras dele faziam sentido. Desde que superassem esses obstáculos, provavelmente seriam bem recompensados.
Porém, ninguém se moveu imediatamente, pois não sabiam o que poderia surgir a seguir. Eles apenas olharam para o interior da caverna. Na frente deles estava a parede que disparou as flechas, e dos lados da parede havia duas entradas; eles podiam escolher entre os dois caminhos.
"Droga! Quem não arrisca não petisca. Eu definitivamente terei uma parte desses tesouros", gritou um cultivador.
O homem se decidiu e voou na direção de uma das entradas. Seus olhos estavam fixos na parede, pronto para reagir a qualquer coisa.
Os olhos de todos se voltaram para ele, felizes por ter surgido alguém para testar as águas. Suas próximas ações dependeriam do desempenho daquele cultivador.
Enquanto o homem voava, seu corpo pareceu bater em uma tela de luz amarela, que brilhou por um instante, mas não o impediu, rompendo a tela com facilidade. Porém, os círculos apareceram novamente na parede e dispararam novas flechas.
O homem já estava preparado e começou a fazer manobras evasivas. Mesmo que as flechas fossem rápidas, não estavam além do que seus reflexos e movimentos podiam lidar.
O cultivador se aproximou rapidamente da entrada que escolheu. Porém, seu corpo pareceu atravessar outra tela de luz. O rosto do cultivador afundou, e ele se concentrou ainda mais, preparado para o caso de a quantidade de flechas aumentar.
De repente, o cultivador sentiu uma dor na barriga. Ele olhou para baixo, aterrorizado: uma lança estava cravada em seu corpo. No instante seguinte, soltou um grito miserável e despencou. Durante o percurso, seu corpo ativou mais algumas telas de luz, e, quando atingiu o chão, várias lanças caíram do teto, atingindo-o. Poucos segundos depois, mais uma poça de sangue estava no chão frio da caverna.
Os outros cultivadores estremeceram.
O rosto de Kael também afundou. Aquele lugar era terrível demais.
"O que diabos é esse lugar? O que será que está sendo guardado aqui?", questionou um cultivador.
Os olhos de todos revelavam medo, mas também ganância. Quanto mais difícil fosse para entrar, mais acreditavam que havia algo incrível sendo guardado ali.
Uma gota de suor escorreu da testa de Kael. Ele estava confiante em sua habilidade e acreditava que poderia desviar desses ataques, mas qualquer descuido poderia resultar em sua morte. Ele tinha que ser bastante cauteloso. Por acaso aquele cultivador também não estava confiante de que conseguiria?
"O que devemos fazer? Não podemos desistir assim", disse uma cultivadora.
"Com certeza essa é uma matriz de defesa. Como não temos nenhum especialista em matrizes, teremos que depender de nossas próprias habilidades e sorte", disse o ancião do clã Ametista.
Maria, que estava ao lado, franziu a testa. Especialistas em matrizes eram capazes de criar várias formações poderosas, que podiam proporcionar defesa, aprisionar ou até matar outros cultivadores. Quando uma matriz era montada, normalmente não dependia mais do poder do cultivador. Elas eram capazes de utilizar energia externa, do mundo, de pedras espirituais ou veias naturais de energia. Por isso, a maioria das matrizes era incrivelmente poderosa e difícil de lidar.
Nem sempre era possível se livrar de uma matriz utilizando apenas força bruta. Era necessário entender sua estrutura e descobrir como desarmá-la. Por isso, o ancião estava desanimado por causa da falta de um especialista nesse campo.
Kael finalmente entendeu. Ele nunca tinha encontrado matrizes antes e não tinha pensado na possibilidade. Mas não era de se admirar: algo capaz de matar cultivadores do Núcleo Espiritual com tanta facilidade só poderia ser uma matriz relativamente poderosa.
‘’Talvez você consiga superar isso utilizando os Olhos de Deus’’, a voz de Lia soou na mente de Kael.
‘’Os Olhos de Deus?’’ questionou Kael, com um pouco de dúvida. Lia nunca tinha mencionado nada sobre os Olhos de Deus terem relação com matrizes.
‘’Sim, as armadilhas das matrizes são escondidas por energia espacial ou por ilusões criadas com energia da alma. Dificilmente esse tipo de coisa seria capaz de enganar os Olhos de Deus’’, respondeu Lia.
Os olhos de Kael brilharam; realmente fazia sentido. Ele começou a ficar animado, pois, se funcionasse, seria muito mais seguro atravessar o lugar. Porém, se utilizasse os Olhos de Deus, chamaria a atenção de todos, e esses cultivadores entenderiam de imediato que ele provavelmente possuía uma técnica capaz de desvendar matrizes. Isso tornaria impossível que o deixassem prosseguir sem problemas.
Era provável que Kael fosse atacado pelas costas. Afinal, o primeiro cultivador tentou utilizar sua velocidade e reflexos, algo que todos poderiam fazer, mas o método de Kael seria único. Alguém permitiria que ele avançasse e ficasse com todos os tesouros?
‘’Independente de qualquer coisa, primeiro tenho que ter certeza de que funciona’’, pensou Kael.
Então, ele olhou para frente e ativou os Olhos de Deus. A luz dourada e majestosa iluminou a caverna. Kael suprimiu ao máximo a energia e o brilho liberados por seus olhos, querendo minimizar o impacto causado.
‘’O que é aquilo?’’ questionou um cultivador, olhando para Kael.
‘’Uma técnica ocular. Será que ele é capaz de ver através dessa matriz?’’ perguntou Maria, intrigada.
‘’Hum, algumas técnicas oculares realmente possuem certa eficácia contra matrizes’’, concordou o ancião de seu clã.
Todos fixaram seus olhos em Kael, atentos a cada movimento.
Na visão de Kael, começaram a aparecer elementos que antes eram invisíveis. O que ele viu o fez estremecer e sentir um arrepio. Ele desativou os Olhos de Deus, com a testa cheia de suor.
Vendo que Kael tinha terminado, Maria começou a se aproximar dele, acompanhada pelos membros do Clã Ametista. Chu Ju, por sua vez, não queria ficar para trás e também se aproximou com os membros de seu Clã Floral.
Os outros cultivadores não chegaram muito perto, mas deram alguns passos na direção de Kael. Ficava claro que ninguém tinha intenção de deixá-lo sair dali facilmente.
‘’Amigo, por acaso descobriu alguma coisa com sua técnica?’’ perguntou Maria, com um lindo sorriso.
Kael olhou ao redor. As coisas estavam se desenvolvendo exatamente como ele imaginou. Após ponderar um pouco, acenou em resposta:
‘’Sim, eu realmente tive um vislumbre de como a matriz funciona.’’
Na verdade, não foi um vislumbre. Kael conseguiu ver tudo com perfeição, o que o impressionou novamente sobre o quão extraordinários eram os Olhos de Deus. Mas ele não tinha intenção de revelar isso. Era melhor que acreditassem que ele mal podia decifrar a matriz.
‘’Oh, então com sua ajuda seremos capazes de entrar em segurança. Você estará fazendo um grande favor a todos aqui’’, o sorriso de Maria se alargou.
Ela claramente já considerava que Kael mostraria o caminho. Além disso, não pediu ajuda apenas para o clã dela, mas para todos ali presentes, querendo pressioná-lo e, ao mesmo tempo, ganhar o apoio geral. Mesmo sendo poderoso, seu clã não podia entrar em conflito com todos.
‘’Isso mesmo. Seremos imensamente gratos por isso’’, disse Chu Ju, aumentando a pressão.
Com isso, os demais cultivadores começaram a demonstrar apoio, enfatizando como contavam com Kael para guiá-los.
Kael ficou chocado. Essas pessoas eram realmente desavergonhadas e faziam tudo parecer natural, como se fosse sua obrigação ajudá-los. Ele não sabia se ria ou chorava.
‘’Gratidão? Não preciso disso’’, respondeu ele, balançando a cabeça.
De repente, todos franziram a testa. O olhar de Chu Ju ficou frio, e ele deu um passo à frente.
‘’Garoto, você realmente acha que pode ofender todas as pessoas aqui?’’ disse ele.
Kael não se intimidou. Ele encarou Chu Ju e respondeu calmamente:
‘’Se eu me atrevi a vir até aqui e mostrar minha habilidade diante de todos, é óbvio que tenho como lidar com isso.’’
‘’Já digo logo: me ameaçar não vai te trazer nenhum benefício.’’
Kael não podia demonstrar fraqueza agora, ele era o único cultivador da Condensação Média naquele lugar, sem apoio. Não tinha intenção nem capacidade de enfrentar todos ali, mas se essas pessoas pensassem que podiam se aproveitar dele, realmente acabaria sem nada no final.
Todos ficaram chocados com a audácia de Kael. Ele realmente teve coragem de falar assim com Chu Ju.
Os olhos de Chu Ju se estreitaram ainda mais. Ele estava acostumado a ser dominante, e raramente alguém ousava enfrentá-lo. Não importava que o cultivo de Kael também estivesse na Condensação Média, Chu Ju era um dos maiores gênios da região e não acreditava que poderia ser derrotado por um cultivador aleatório. Ele decidiu que era hora de ensinar uma lição àquele garoto.

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