229-Reflexão
- Rafael_Fera
- 6 de mar.
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Lara assentiu para si mesma. “De fato, os ferimentos são exatamente como vocês relataram; tratá-la não apresentará grandes dificuldades.”
Ao ouvir essas palavras, Kael e as garotas se encheram de júbilo.
“Primeiro, vamos deitá-la em uma cama”, continuou ela.
Kael assentiu e se adiantou; pegou Yan Xi em seus braços e seguiu em direção ao quarto dela. Aproximou-se da cama e a acomodou cuidadosamente, posicionando sua cabeça sobre o travesseiro.
Lara não pôde deixar de admirar o zelo de Kael. Muitos cultivadores eram naturalmente reservados, demonstrando pouco afeto mesmo por aqueles de quem gostavam, pois o cultivo sempre ocupava o primeiro plano. Embora houvesse exceções, essa postura era bastante comum.
Assim que Kael se afastou, Lara dirigiu-se a Yan Xi, acomodando-se ao lado dela na cama e, novamente, colocando sua mão sobre o pulso da jovem.
Fechando os olhos, Lara começou a canalizar sua energia, cuja intensidade aumentava progressivamente.
Yan Xi soltou um leve gemido, e o semblante dela revelou um certo desconforto, o que logo alarmou Kael.
Abrindo os olhos, Lara tentou acalmá-lo: “Não se preocupe, com as minhas habilidades, ela não corre nenhum risco.”
Kael respirou fundo e assentiu, enquanto Lara, retomando o tratamento, fechava os olhos novamente.
O procedimento se estendeu por mais de duas horas, durante as quais Lara manteve sua posição sem jamais interromper o fluxo contínuo de energia que percorria o corpo de Yan Xi. Após um tempo, Yan Xi começou a tossir e uma névoa escura, misturada a traços de sangue, escapou de sua boca. Nesse instante, Lara soltou sua mão e sorriu.
“Finalizado!”, exclamou ela.
Kael, que até então estava aflito, soltou um suspiro de alívio, sorriu e aproximou-se de Yan Xi.
“Como se sente?”, perguntou ele; mas Yan Xi apenas lançou um olhar sem oferecer resposta.
Voltando-se para Kael, Lara explicou: “Apenas expulsei a energia invasora presente em seu corpo. Agora, ela precisará de algum tempo para que as feridas se curem, mas, em poucos dias, estará completamente recuperada.”
Depois, dirigindo o olhar a Yan Xi, Lara suspirou: “Você foi realmente azarada; a energia penetrou tão profundamente em seu corpo, algo que não ocorre com frequência.”
Normalmente, mesmo em situações semelhantes, o cultivador conseguiria expulsar a energia por conta própria, como Kael fez. Contudo, a quantidade que invadiu o corpo de Yan Xi foi muito maior e de penetração mais intensa. Até mesmo a recuperação de Kael foi afetada quando ele estava sendo afligido por uma energia semelhante, fazendo com que sua recuperação fosse bastante lenta.
Kael e as garotas expressaram sua gratidão a Lara antes que ela se retirasse. Em seguida, Kael segurou a mão de Yan Xi e começou a canalizar a energia da Árvore da Vida.
“Apenas descanse, eu ajudarei você a se recuperar mais rapidamente”, disse ele.
Yan Xi esboçou um sorriso, piscou uma vez e, então, fechou os olhos para se deixar relaxar, usufruindo da energia da vida que lhe proporcionava um conforto singular.
*
O restante da semana transcorreu de maneira tranquila, e Kael conseguiu auxiliar Yan Xi em sua completa recuperação em apenas três dias.
Com Yan Xi restabelecida, o grupo passeou pela Academia Celestial. Xia Rou e Yan Xi conduziram Kael e Lia pelos recantos do local. Inclusive, Kael e Lia extraíram uma pequena porção de suas almas para formar cristais da alma, permitindo que o clã verificasse seu estado em caso de imprevistos, assim como Xia Rou examinava o cristal de Yan Xi.
A movimentação dos quatro chamou imediatamente a atenção de todos, sobretudo ao verem Yan Xi e Xia Rou tão próximas de alguém. Além disso, Lia rapidamente se tornou conhecida, conquistando diversos admiradores.
Todavia, o que mais impressionava era Kael, cercado por mulheres tão encantadoras, especialmente considerando que Xia Rou e Yan Xi já desfrutavam de grande fama na Academia Celestial, com seus talentos amplamente reconhecidos.
Para agravar a situação, logo se descobriu que todas elas residiam com Kael. Ao tomarem conhecimento disso, os jovens cultivadores ficaram indignados e desapontados, vendo suas fantasias despedaçadas, o que gerou um forte sentimento de ódio e inveja em direção a Kael.
Entretanto, Kael não se deixou abater; ele já estava acostumado com esse tipo de coisa e sabia que tais reações eram inevitáveis em qualquer lugar que fossem.
Além disso, os cultivadores se empenhavam em desvendar a origem da casa onde viviam. Sabiam da localização da residência de Xia Rou e que Yan Xi não possuía uma casa, o que os levava a supor que a morada pertencia a Kael ou a Lia. A maioria apostava em Lia, visto que ela se encontrava no pico do Núcleo Espiritual.
Observando o cultivo de Lia, a inveja dos demais em relação a Kael se intensificava, pois era inegável que o talento dela era de nível superior. Mesmo assim, muitos ainda nutriam a esperança de que os quatro apenas dividissem a mesma casa, sem manter relações mais íntimas. É um absurdo, mas as pessoas tendem a acreditar naquilo que desejam.
Enquanto Kael e Lia caminhavam de volta para casa, Kael brincou: “Por que sinto que posso ser assassinado a qualquer instante?”
“Parece que você é o homem mais invejado deste clã”, replicou Lia com um sorriso.
Embora suas palavras tenham sido ditas em tom de brincadeira, não estavam distantes da realidade.
Kael balançou a cabeça, resignado, e os dois adentraram a residência. O ambiente estava calmo, e não se avistava Yan Xi nem Xia Rou em nenhum canto.
“Aquelas duas ainda estão cultivando; deveriam se permitir um momento de relaxamento”, comentou Lia.
“Para você, o cultivo pode ser tranquilo, pelo menos enquanto recupera seus poderes, mas nós precisamos nos empenhar bastante – eu só saí agora porque você me arrastou”, retrucou Kael.
Lia bufou: “Já te disse diversas vezes que vocês não podem se deixar consumir por essa obsessão; por mais que se esforcem, é fundamental reservar um tempo para relaxar, senão será mais prejudicial do que benéfico.”
Kael assentiu, ciente da razão de Lia, embora reconhecesse a dificuldade de conciliar o desejo de evolução com a necessidade de equilíbrio.
“Sei que não é fácil; eu mesma passei por isso, mas essa disciplina é parte integrante do treinamento mental. Quando se adaptarem, perceberão os benefícios”, continuou Lia.
A situação mostrava-se mais complexa do que aparentava. Na ânsia de se tornarem mais fortes rapidamente, os cultivadores frequentemente se imergiam de forma excessiva no cultivo, isolando-se por longos períodos. Inicialmente, poderiam apresentar avanços notáveis, mas com o passar do tempo, sua evolução estagnava; muitos acreditavam que, se persistissem, romperiam essa barreira, mas, paradoxalmente, quanto mais se esforçavam, pior ficava. Tratava-se de um ciclo quase impossível de romper.
Embora todos soubessem dessa armadilha, muitos não conseguiam se desvencilhar da obsessão e permaneciam estagnados indefinidamente. Por mais que tentassem se distrair e relaxar, a paz verdadeira lhes escapava – suas tentativas eram apenas fruto de uma ação desesperada, e, com o tempo, a situação se agravava ainda mais.
Kael, por sua vez, estava plenamente ciente desse dilema; mesmo com os inúmeros conselhos de Lia, ele encontrava dificuldade em permanecer completamente relaxado por longos períodos.
Ele recordou os dias em que tentava criar sua própria técnica de cultivo: imerso em pergaminhos, estudando e treinando incessantemente, chegou a um ponto em que a vitória parecia próxima, mas continuava fora de alcance. Esse esforço o consumia, e ele não conseguia se deter.
Foi então que sua mãe, Aria, o aconselhou a se afastar e relaxar um pouco. Quando Kael finalmente encontrou a paz, a inspiração que lhe faltava para criar a Semente do Universo se revelou.
Aquele momento foi verdadeiramente decisivo, e a sensação que experimentei foi profundamente agradável e libertadora”, “refletiu Kael.
Sem perceber, naquele instante, sua mentalidade sofreu uma sutil transformação, e ele realmente passou a compreender a real importância do equilíbrio entre esforço e serenidade.
Após prolongarem a conversa, ele e Lia se retiraram para seus quartos, cientes de que no dia seguinte Kael teria uma audiência com o mestre do clã.
*
Tendo passado a tarde ao lado de Lia, Kael dedicou a noite ao cultivo. Na manhã seguinte, ele partiu cedo em direção à residência do mestre do clã.
Ao chegar, Kael ficou verdadeiramente impressionado. O local era imponente, muito maior do que sua própria casa – que ele já considerava incrível. No esplêndido jardim, avistou diversas plantas e ervas preciosas; vários animais circulavam pacificamente, pastando a grama verde, bebendo água ou repousando sob a luz do sol.
Kael quase deixou o queixo cair, pois aquilo ultrapassava em muito a ideia de uma simples casa; ele teve dificuldade até para descrever a cena.
Enquanto Kael permanecia estupefato, uma serva aproximou-se. Surgiu uma abertura na barreira, e ela fez uma breve reverência.
“Em que posso ajudá-lo?”, questionou a serva.
Observando o cultivo da mulher, Kael respirou fundo e pensou: “Uma cultivadora de Alma Média!”
Uma cultivadora de Alma Média era considerada apenas uma serva, e ela se curvou respeitosamente diante de um cultivador do Reino da Condensação – algo realmente impressionante.
Esforçando-se para manter a calma, Kael curvou-se e respondeu: “Me chamo Kael, vim para uma audiência com o mestre do clã.”
A serva esboçou um leve sorriso e, gesticulando, indicou o caminho: “Estávamos aguardando, por favor, siga-me.”
Impressionado com o profissionalismo demonstrado, Kael não permaneceu atordoado por muito tempo e prontamente seguiu a serva.

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