185 - Missão
- Rafael_Fera
- 17 de jan.
- 6 min de leitura
Enquanto Kael observava de longe, alguns pequenos grupos começaram a se formar. Pelos seus uniformes e emblemas, Kael sabia que pertenciam a diferentes clãs.
A maioria era composta por pessoas mais velhas, no Reino do Núcleo Espiritual, mas também havia alguns jovens no Reino da Condensação ou até no Refinamento de Sangue. Todos olhavam para a casa com olhos ardentes.
“Essa com certeza é uma casa que foi utilizada por um especialista. Devem haver muitos tesouros lá dentro”, disse um cultivador, animado.
“Precisamos entrar rapidamente, antes que as pessoas dos grandes clãs comecem a aparecer, ou acabaremos ficando sem nada”, disse outro.
Todos concordaram. Um homem robusto deu um passo à frente e falou, olhando para as pessoas ao redor:
“Amigos, precisamos atacar todos juntos. Só assim teremos uma chance de quebrar a barreira. Vamos unir nossas forças por um momento. Quando a barreira for quebrada, o que for obtido dependerá das habilidades de cada um. O que acham?”
“Eu concordo!”, gritou alguém.
“Vamos logo! Com uma comoção tão grande, não demorará muito para especialistas que estavam próximos aparecerem”, falou outro.
“Meu clã Ametista também concorda!”, disse uma cultivadora, que se aproximava junto com outros cultivadores.
Ao verem a garota, alguns cultivadores exclamaram:
“Essa é Maria, do clã Ametista!”
“Droga! Agora temos um concorrente forte. Não podemos perder mais tempo.”
Em meio aos murmúrios e exclamações, outro grupo apareceu.
“Não se esqueçam de mim!”, disse o líder, com um sorriso.
“Chu Ju, do clã Floral!”, um cultivador gritou, chocado.
“Por que ele também está aqui?”, questionou outro.
“O clã Ametista e o clã Floral são os pequenos clãs mais poderosos dessa região. Com eles aqui será muito difícil conseguirmos algo!”, disse um cultivador, desanimado.
“Pelo menos eles são inimigos. Talvez acabem lutando entre si, nos dando uma chance.”
Ouvindo essas palavras, os olhos de todos brilharam. Não era segredo que esses dois clãs eram inimigos, e era muito provável que entrassem em batalha pelos tesouros da casa. Isso, de fato, lhes daria uma chance de lucrar.
Ao ver Chu Ju se aproximar, Maria revelou um olhar de desgosto.
“O que esse cara de rato está fazendo aqui?”
Todos prenderam a respiração. Seus olhos involuntariamente percorreram Chu Ju. De fato, ele tinha olhos puxados e um rosto que se assemelhava ao de um rato, mas ninguém ousou comentar. Alguns até se esforçaram para prender o riso.
O rosto de Chu Ju afundou. Ele detestava ser chamado de “cara de rato”; poucas pessoas tinham coragem de se dirigir a ele dessa forma. Maria era uma delas.
“Quero ver você dizer isso enquanto estiver sendo pressionada abaixo de mim!”, disse ele, percorrendo os olhos cheios de luxúria pelo corpo de Maria.
Maria tinha uma bela figura: cabelos que iam até os ombros, uma cintura fina e seios redondos e firmes. Mesmo que não fossem muito grandes, pareciam perfeitos em seu corpo.
“Humpf! Como se você fosse homem o suficiente para isso. Ficaria feliz em cortar esse seu amiguinho!”, bufou ela, com um olhar frio.
Com as palavras de Maria, alguns homens sentiram um arrepio e involuntariamente apertaram as pernas.
Os dois grupos começaram a liberar energia espiritual, criando uma grande tensão no ar. Parecia que iriam entrar em confronto a qualquer momento.
Chu Ju levantou a mão de repente, sinalizando para que seu pessoal parasse. Todos recolheram suas energias.
“Maria, a qualquer momento lhe ensinarei uma lição, mas agora não é o momento para isso. Não quero perder tempo aqui esperando outros especialistas chegarem”, disse ele.
Maria, a contragosto, pediu que seu pessoal também recolhesse suas auras.
“Não vamos perder mais tempo. Ataquem todos juntos!”, gritou ela.
Todos os cultivadores acumularam energia e dispararam contra a barreira, fazendo-a tremer, mas sem conseguir rompê-la.
“Ataquem novamente!”, disse Chu Ju.
Com o segundo ataque, pequenas rachaduras apareceram na barreira, parecendo teias de aranha, mas ainda não foi suficiente para rompê-la.
Kael observava tudo de sua posição. Ele já havia coberto Yan Xi com um manto e estava preparado para invadir o local assim que a barreira fosse quebrada.
“Não precisa ficar tão ansioso. Você terá uma grande surpresa quando entrar na casa”, a voz de Lia soou de repente.
“Grande surpresa?”, questionou Kael.
Lia deu uma risadinha e respondeu: “Você entenderá em breve.”
Kael estava bastante curioso, mas não perguntou mais. Apenas continuou aguardando. Não demoraria muito para quebrarem a barreira.
Habilidades choviam sobre a barreira, causando uma visão magnífica, cheia de cores e explosões. A barreira continuou tremendo incessantemente até que, finalmente, se estilhaçou como uma parede de vidro, soprando uma rajada de vento sobre os cultivadores.
“Está aberta!”, gritou um cultivador, que começou a correr imediatamente.
“Saia do caminho!”, gritou outro, disparando energia espiritual nas costas do primeiro.
O cultivador, pego de surpresa, não conseguiu se defender. Apenas deu um grito miserável e rolou pelo chão, coberto de ferimentos. Mas isso foi apenas o início. Outros cultivadores atacaram o agressor e, em seguida, uma luta generalizada teve início.
Todos tentavam correr desesperadamente para a frente enquanto tentavam atrasar os oponentes.
Chu Ju, de forma cruel, golpeou um cultivador com sua espada, acertando seu coração por trás. Em seguida, ele correu na direção de Maria e tentou acertá-la também.
Maria apenas bufou friamente, sem se preocupar com ele. Um dos cultivadores que estava com ela tomou a dianteira e bloqueou o ataque. Com o impacto, Chu Ju deu alguns passos para trás. Com um sorrisinho no rosto, sabia que, com a presença daquele ancião, não conseguiria atingi-la. Estava apenas desabafando e tentando a sorte.
Sem perder tempo, ele imediatamente ignorou os cultivadores do Ametista e voltou a correr. Um por um, todos passaram pela porta da casa e desapareceram.
Kael olhava fixamente para tudo isso. Agora, restavam apenas corpos do lado de fora.
“Muitas pessoas já morreram antes mesmo de entrar na casa!”, suspirou ele.
Essa era a crueldade do mundo do cultivo. Você era livre para lutar por tesouros, mas, se não fosse forte e sortudo o suficiente, o destino seria exatamente igual ao daquelas pessoas.
Kael olhou para os lados, certificando-se de que não havia mais ninguém por perto. Depois, disparou na direção da porta da casa e entrou rapidamente.
*
Uma cultivadora estava ajoelhada, com a cabeça abaixada. A jovem tinha uma beleza impressionante; sua pele era perfeitamente lisa e sem imperfeições, e cada curva de seu corpo estava na medida perfeita. Seu longo cabelo castanho escorria sobre os ombros. Se alguém a visse nessa posição tão humilde, sentiria uma pontada de dor no coração.
"Minha senhora, qual sua ordem?", questionou ela com uma voz respeitosa.
Na frente dela estava outra jovem, cuja beleza parecia estar fora deste mundo. A mulher tinha cabelos verdes e uma pele alva, imaculada. As duas mulheres na sala eram beldades impressionantes, mas esta segunda possuía uma aura natural de autoridade e majestade. Apenas ao observá-la, muitos já desenvolveriam o desejo de se prostrar diante dela.
A jovem estava com os olhos fechados, parecendo tranquila. Quando ouviu as palavras da cultivadora à sua frente, seus cílios tremeram levemente, e seus olhos se abriram. Aqueles olhos possuíam um brilho que parecia capaz de roubar almas.
"Cai Li, preciso que faça uma viagem", disse ela com a voz suave, mas firme.
Ao terminar de falar, moveu levemente a mão, liberando um pouco de energia espiritual. Aos poucos, uma imagem começou a se formar: era um garoto. Ele parecia bem jovem, mas emanava um ar de confiança e força. Sua aparência e temperamento eram capazes de roubar os corações de várias garotas inocentes.
Cai Li, que estava ajoelhada, manteve os olhos fixos na imagem do garoto. Sem entender por que sua senhora estava lhe mostrando aquilo, aguardou pacientemente.
Os lábios da mulher de cabelos verdes se moveram lentamente, dizendo algo que deixou Cai Li completamente chocada. Seus olhos se arregalaram, e ela parecia uma pessoa completamente diferente de um momento atrás, quando exalava calma e serenidade.
A mulher de cabelos verdes franziu a sobrancelha e perguntou: "Por acaso não está satisfeita?"
Cai Li voltou a si imediatamente, respondendo de forma apressada: "De forma alguma, minha senhora. Apenas fiquei surpresa. Nunca pensei que esse ga... que este estimado tivesse tal status. Ficarei feliz em seguir seus arranjos. Tenho certeza de que minhas irmãs pensarão o mesmo."
Ela quase se referiu à pessoa como garoto, mas imediatamente mudou a forma de tratamento.
Cai Li estava pasma, e uma gota de suor escorreu de sua testa. Como havia dito, ela não estava nem um pouco incomodada com os arranjos de sua senhora. Se a mesma pedisse que entregasse sua vida, Cai Li morreria de bom grado. Afinal, tudo o que tinha e conquistara fora por causa da mulher à sua frente. Em sua visão, nada que fizesse seria suficiente para compensar por tudo o que havia recebido. O mesmo valia para as irmãs que ela mencionara. O que a atingiu foi realmente a surpresa e o choque, um choque inimaginável. Seus olhos permaneceram fixos no garoto, como se quisesse ver através dele, tentando descobrir o que ele tinha de especial.
A mulher de cabelos verdes moveu a mão novamente, fazendo a figura do jovem desaparecer. Então, ela explicou a missão completamente a Cai Li, que acenou em reconhecimento.
"...seria melhor se você não fosse descoberta. Mas talvez nem precise fazer um movimento."
"Entendido. Só interferirei se não tiver absolutamente nenhuma escolha", respondeu Cai Li com a voz firme.
A mulher de cabelos verdes assentiu. "Vá. Mostre a imagem dele para as outras e deixe todas cientes da situação. Por enquanto, essa informação só pode ser compartilhada entre vocês."
Cai Li fez uma nova reverência e saiu da sala.
A mulher de cabelos verdes não estava preocupada; sabia que era impossível para essas garotas traí-la. Ela fechou os olhos novamente e voltou a meditar.

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