231-Confronto Inevitável
- Rafael_Fera
- 9 de mar.
- 6 min de leitura
Atualizado: 18 de mar.
Kael e Xia Rou estavam diante de uma imensa estrutura em formato de cone. Na base, era possível distinguir uma passagem retangular; não havia uma porta, mas a abertura estava mergulhada em uma escuridão absoluta, e os olhos dos dois permaneciam fixos naquele abismo de sombras.
"Já faz três meses que ele está lá. O ancião Yalei disse que poderia haver algum perigo," comentou Xia Rou, com um traço de apreensão na voz.
Ela temia que algo de ruim pudesse acontecer com Branco, afinal, Kael não estava presente e foi ela mesma quem autorizou sua entrada naquele reino secreto.
Kael, tentando acalmá-la, respondeu: "Não existe caminho fácil para a evolução; para progredirmos, todos precisamos assumir riscos."
Embora Kael também carregasse uma pontada de preocupação, ele sabia que essas situações eram inevitáveis. Os humanos teriam que encarar desafios para evoluir, e o mesmo se aplicava, talvez de maneira ainda mais intensa, às bestas selvagens, que viviam lutando e se devorando umas às outras incessantemente.
Xia Rou assentiu lentamente, e os dois continuaram a aguardar. Conforme os minutos se arrastavam, a ansiedade crescia, até que, de repente, uma figura começou a emergir da escuridão.
"Branco!" exclamou Kael, mas, ao deparar-se com a silhueta, seu queixo quase caiu. Não era que a figura fosse enorme, pelo contrário: o corpo de Branco era muito pequeno, menor que o de um gato doméstico.
O som do grito pareceu atordoar o pequenino por um instante; então, seus olhos encontraram os de Kael, brilhando com uma alegria contagiante.
Sem hesitar, Branco disparou em direção a Kael, avançando rapidamente até se lançar nos braços dele.
Kael, alheio ao tamanho diminuto do animal, acolheu-o com entusiasmo, como se o tamanho não importasse diante do afeto e do sentimento de alívio que sentia.
Ao ver aquela cena, Xia Rou soltou um profundo suspiro de alívio, e um sorriso terno iluminou seu rosto.
Kael, curioso, analisou o cultivo de Branco e não pôde conter o espanto: "Você está no nível três?"
Agora, Branco se apresentava claramente como uma besta selvagem de nível três – equivalente, para os humanos, ao Reino do Núcleo Espiritual –, o que significava que seu cultivo já havia superado o de Kael.
"Que alimento milagroso você andou consumindo para evoluir assim?" Indagou Kael, mantendo o sorriso estampado no rosto. Sua felicidade transbordava, e ele não se incomodava nem um pouco com o fato de ter sido superado, ao menos no quesito cultivo.
Branco, como se sentisse orgulho de si mesmo, ergueu a cabeça de forma altiva, como se quisesse se vangloriar do feito alcançado.
O sorriso de Kael tornou-se por um breve instante um tanto rígido, enquanto Xia Rou explodia em gargalhadas, sentindo uma doce nostalgia das interações entre a dupla.
"Ele tem motivo para se orgulhar – tão jovem e já conseguiu superar nossos cultivos, mesmo depois termos nos esforçado tanto. Esse reino secreto foi realmente benéfico para ele," comentou Xia Rou, com um sorriso sereno.
Animado, Branco lambeu o rosto de Kael com energia, demonstrando que, durante todo aquele período, o pequeno também estava preocupado, e agora sua alegria se justificava plenamente.
Depois de brincadeiras e momentos de ternura, Kael colocou Branco em seu ombro e vociferou: "Vamos voltar."
Xia Rou assentiu, e o trio partiu animado, retornando do reino secreto.
*
Ao voltarem, Kael e Xia Rou foram recebidos pelas garotas, que, de maneira divertida, haviam "sequestrado" Branco para brincar com o pequeno.
Branco se mostrou ainda mais animado ao rever Lia, e não demorou para se aproximar também de Yan Xi.
Kael já havia percebido que Branco agora podia alterar seu tamanho à vontade; naquele momento, o animal assumia uma forma fofa e compacta, mas, se a situação exigisse, poderia aumentar suas dimensões várias vezes durante uma batalha.
Decidido a aproveitar o momento, Kael deixou as meninas se divertirem com Branco e foi se dedicar ao cultivo. A Academia Celestial havia fornecido inúmeros recursos para o cultivo – e continuaria a fornecer –, de maneira semelhante ao que o Clã Mu fazia, porém com uma capacidade de ofertar recursos ainda mais valiosos.
Esses recursos eram fundamentais para o avanço de todos, e cada discípulo recebia uma cota. A soma dos recursos que Kael e as garotas obtinham faria qualquer discípulo ficar com os olhos vermelhos de inveja.
Quando Kael estava prestes a se sentar para iniciar sua sessão de cultivo, um som estrondoso de sino ecoou, vindo de um lugar distante.
"O que aconteceu?" Pensou ele, surpreso.
Embora ainda não dominasse todas as regras da Academia Celestial, Kael entendia que aquele som poderia ser um sinal – ou do início de um festival, ou de um alerta iminente.
Contudo, ele não acreditava que um festival estivesse prestes a ocorrer, pois, se fosse esse o caso, ele certamente já teria sido informado.
Ao retornar para a sala, Kael percebeu que as garotas exibiam expressões graves.
"O que aconteceu?" Questionou ele, com um tom de preocupação crescente.
Yan Xi deu um passo à frente e, com um olhar apreensivo, declarou: "Esse é o sinal de alerta."
"Então era realmente isso," murmurou Kael, enquanto seu rosto afundava em desânimo.
"Temos que ir para o centro do clã," ordenou Xia Rou, com firmeza.
Lia assentiu: "O sino ainda está tocando; algo verdadeiramente sério deve ter acontecido."
Sem perder tempo, Kael e as garotas saíram rapidamente.
*
Enquanto o grupo de Kael corria em direção ao local, eles observaram inúmeros outros cultivadores fazendo o mesmo. As ruas, que normalmente eram tranquilas e com poucos transeuntes, estavam agora repletas de pessoas.
Também avistaram alguns cultivadores voando – indicativo de um nível de cultivo mais elevado. Esses indivíduos eram anciões menores, residentes ou até mesmo alguns discípulos.
Lia e Yan Xi, que pertenciam ao Reino do Núcleo Espiritual, poderiam voar, mas, obviamente, preferiram acompanhar Kael e Xia Rou a pé.
À medida que avançavam, o fluxo de pessoas aumentava, até que finalmente chegaram a uma praça enorme e circular, completamente lotada.
Todos os presentes exibiam olhares de preocupação e inquietude; embora soubessem do toque do sino, muitos jamais tinham ouvido seu som antes.
"Será que estamos sob ataque?" Questionou um cultivador, com a voz embargada.
"Quem poderia nos atacar?" Indagou outro, tentando compreender a situação.
"Os únicos capazes de lutar contra nós são do Clã Sombra Mortal, mas é simplesmente impossível que eles apareçam aqui," afirmou um terceiro, e os demais assentiram, compartilhando o mesmo pensamento.
Nos cantos, sussurros e conversas tímidas se espalhavam.
"É estranho – em meio a tanta gente, não vejo nenhum dos discípulos principais," comentou Yan Xi, observando atentamente ao redor.
Xia Rou concordou: "Provavelmente, eles já foram informados da situação, afinal, muitos têm algum tipo de relação com os anciões mais destacados, seja por laços familiares ou como discípulos."
Kael e Lia apenas escutavam de soslaio, pois não conheciam a identidade dos discípulos principais e, por isso, não haviam notado tal detalhe.
A espera, entretanto, não se estendeu por muito tempo. Em pouco tempo, um grupo de cultivadores – claramente não discípulos, mas indivíduos mais velhos e de aura imponente – voou em direção à praça.
Esses cultivadores, com expressões sérias, posicionaram-se no centro da praça, forçando que as pessoas se afastassem para abrir espaço.
Com semblantes graves, um dos anciãos apressou-se e gritou: "Ouçam todos: a guerra em larga escala finalmente começou!!"
A voz, imbuída de intensa energia espiritual, ecoou por todo o recinto, como se o ancião estivesse falando diretamente ao lado de cada pessoa presente.
O anúncio deixou todos os cultivadores atônitos.
"O Clã Sombra Mortal está realmente atacando?" Murmurou alguém, atônito.
"Aqueles malditos realmente tiveram a coragem!" Exclamou outro, entre incrédulo e furioso.
"O que vai acontecer agora? O que faremos?" Questionavam vários, em meio a exclamações e indagações.
Então, outro dos cultivadores mais velhos rugiu: "Silêncio!"
O grito foi tão intenso que parecia um martelo batendo nos ouvidos de todos; muitos cobriram os ouvidos, tremendo, mas logo o silêncio se restabeleceu, cumprindo seu propósito.
O ancião retomou: "O Clã Sombra Mortal atacou com toda a sua força. Os que protegiam a fronteira não conseguiram se manter e foram forçados a recuar para construir uma nova linha defensiva."
"Vários cultivadores já foram enviados para a linha de frente, mas desta vez a escala da batalha será completamente diferente. Solicitaremos a presença dos outros clãs do nosso território e, vocês, discípulos, também precisarão participar," continuou ele.
O ambiente mergulhou em um silêncio absoluto; os rostos dos presentes denotavam pesar e incerteza.
"Todos os que estão no Reino da Condensação ou acima, preparem-se para partir; estejam na entrada do clã amanhã cedo. Os demais serão chamados conforme a evolução da situação."
Após terminar de falar, os anciãos começaram a voar para longe, sem hesitação.
Com a partida dos cultivadores mais velhos, os discípulos voltaram a se agitar, entrelaçados em uma mistura de emoções – alguns preocupados, outros até animados.
Kael e as meninas trocaram olhares de apreensão.
"Parece que não teremos muito tempo para descansar," suspirou Lia.
"Já sabíamos que isso aconteceria, mas foi muito mais rápido do que eu imaginava," comentou Yan Xi, com a voz embargada pela ansiedade.
Kael acariciou a cabeça de Branco, que repousava em seu ombro, e disse: "O Clã Sombra Mortal sempre foi agressivo; parece que já não conseguem mais esperar."
Xia Rou assentiu: "Todos nós teremos que participar, e nossos clãs também enviarão guerreiros para a batalha."
Ninguém podia escapar desse destino: todos estavam sob os auspícios da Academia Celestial, recebendo recursos e proteção, mas, mesmo sem isso, teriam que lutar para se defender – a menos que optassem por se render e entregar seus destinos ao Clã Sombra Mortal.
Após um longo silêncio, Kael finalmente falou: "Vamos voltar; precisamos nos preparar para partir."
As meninas concordaram e seguiram-no, cientes de que, ao adentrar o campo de batalha, estariam expostos a perigos constantes. Este era mais um desafio que teriam de enfrentar e superar.

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