260-Conclusão Inesperada
- Rafael_Fera
- 1 de out.
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Atualizado: 2 de out.
Na fronteira entre a Academia Celestial e o Clã Sombra Mortal uma névoa que havia desaparecido há algum tempo voltou a surgir, porém em menor quantidade. A névoa não durou muito, sumiu tão rápido quanto apareceu e, em seu lugar, surgiu uma figura humana.
Kael, ainda um pouco atordoado, olhou em volta. Os dois exércitos ainda se encontravam em lados opostos, mas em um silêncio completo. Apenas quando Kael apareceu surgiram alguns sussurros, porém suas expressões não pareciam muito surpresas. Esse tipo de coisa devia ter acontecido com frequência durante esse período de tempo, várias outras pessoas devem ter retornado do Mundo do Samsara antes dele.
A mente de Kael ainda era um turbilhão, ele permaneceu parado por bastante tempo, lembrando-se do que tinha acontecido e gravando a imagem de Hua Fei em sua mente, ele nunca a esqueceria. Mesmo depois de 100 anos, devido ao nível de cultivo elevado, a aparência de Kael e Hua Fei praticamente não havia mudado, permanecendo jovens e cheios de energia. Kael lembrou-se de cada gesto, cada sorriso, cada carranca que ela fazia e os esculpiu profundamente em seu coração.
Mesmo que ele se sentisse triste por não poder mais vê-la, Kael sempre esteve preparado para esse momento, ele sempre soube que esse dia chegaria. Claro, isso não o tornou menos doloroso, mas, pelo menos, ele conseguiu protegê-la no final, ao menos ele sabia que seus clãs e seus parentes continuariam existindo naquele mundo... bem... se é que aquele mundo continuaria existindo depois que ele se foi.
“Hua Fei...” Kael murmurou, apertando o punho. Então deu uma última olhada para o horizonte, onde a névoa havia desaparecido, como se quisesse ver através do tempo e do espaço para dar uma última observada no mundo em que estivera. Então ele se virou e começou a caminhar.
*
“Você finalmente voltou!” Flora falou com um sorriso.
Kael acenou com a cabeça e fez a pergunta que estava em sua mente: “Quanto tempo se passou desde que entrei no Mundo do Samsara?”
“Na verdade, não se passou muito tempo, apenas seis meses.” Respondeu ela.
Ela pode ter respondido assim, mas Flora sabia que era provável que seis meses já fosse muito tempo para as pessoas que entraram naquele mundo. Talvez até milênios tenham se passado.
Kael assentiu e, depois de hesitar um pouco, fez a pergunta que estava até com um pouco de medo da resposta: “E quanto às garotas?”
O sorriso de Flora se alargou ao ouvir a pergunta quase sussurrante de Kael, ela sabia exatamente de quem ele estava falando.
“Não precisa se preocupar, as três já retornaram, na verdade você foi o último a voltar.”
Ouvindo isso, Kael soltou um grande suspiro, e o peso em seus ombros finalmente pareceu diminuir. Ele estava muito preocupado com elas. Na verdade, mesmo após sair do Mundo do Samsara, Kael não sabia os critérios para isso. Ele passou mais de 100 anos naquele local, sem nenhuma pista, e agora simplesmente saiu, tão de repente quanto entrou. Kael tinha certeza de que a morte não era o critério para isso, ou pelo menos não o único critério, afinal ele já havia morrido uma vez naquele lugar.
Então não era difícil acreditar que algumas pessoas realmente poderiam ficar presas no Mundo do Samsara por toda a eternidade. Pode-se imaginar o alívio de Kael ao saber que suas mulheres já haviam conseguido retornar.
Mas, de repente, sua expressão ficou séria e questionou novamente: “E qual é a situação da batalha?”
A expressão de Flora ficou um pouco estranha, mas então o sorriso voltou ao seu rosto e ela respondeu com firmeza e orgulho: “A guerra acabou, nós vencemos!”
“O quê?” Kael ficou chocado.
Como assim a guerra acabou? Só a ideia disso já era um absurdo. Kael sabia muito bem que uma guerra nessa escala continuaria por anos até que um vencedor fosse decidido, sem falar que ocorreu uma trégua temporária quando o Mundo do Samsara apareceu. E, quando ele voltou, os dois exércitos ainda estavam presentes, em lados opostos. Apesar de estarem estranhamente silenciosos, não parecia haver muita diferença em suas quantidades, não parecia que algum dos lados tivesse sofrido uma grande perda.
Flora se divertiu com a reação de Kael, ela entendia muito bem o que ele estava pensando, e de certa forma não estava errado, porém, às vezes, coisas excepcionais podem acontecer.
“Na verdade, a trégua foi mantida por pouco mais de quatro meses. Os dois lados mantiveram suas posições, apenas se observando, mas, depois desse período, muito mais cultivadores do Clã Sombra Mortal haviam retornado e a balança de poderes inclinou para o lado deles. Aquelas pessoas nunca perderiam essa oportunidade, então quebraram o acordo e iniciaram o ataque, mas depois de um mês eles foram derrotados e a batalha acabou.” Explicou Flora.
Kael ficou chocado, mas também um pouco frustrado, ele sabia que Flora estava fazendo isso de propósito, agindo misteriosa e não dando a informação completa, deixando-o na expectativa. Ele ainda não entendia o que havia acontecido.
Flora finalmente parou de brincar com Kael e disse o real motivo do fim da batalha: “O mestre da Academia Celestial rompeu seu nível de cultivo, do Pico da Alma Nascente para a Alma Divina, e matou o mestre do Clã Sombra Mortal.”
Foi como se um raio tivesse atingido Kael. Sim, uma guerra entre cultivadores não se resumia apenas em quantidade, a força de uma pessoa muitas vezes poderia influenciar, ou até mesmo determinar o resultado final, assim como aconteceu no Mundo do Samsara.
Kael não sabia qual era o cultivo dos mestres dos dois clãs, mas, pelas palavras de Flora, provavelmente os dois estavam no Pico da Alma Nascente, mas como o mestre da Academia Celestial conseguiu romper e entrar em outro reino, sua força atingiu um patamar completamente diferente. Após matar o mestre do Clã Sombra Mortal, ele não tinha mais oponentes, os outros cultivadores não tiveram escolha a não ser a rendição, evitando assim um massacre inevitável e desnecessário.
“O mestre do clã invadiu furtivamente o acampamento inimigo e matou o oponente. A diferença de poder era grande demais. Para completar, as potências do inimigo estavam na linha de frente e não tiveram chance de ajudar. Quando descobriram que seu líder estava morto, alguns tentaram resistir, mas foram rapidamente tratados. Vendo a facilidade com que eram eliminados, os outros não ousaram mais resistir e finalmente se renderam.” Completou Flora.
Kael assentiu. Mesmo que as potências do Clã Sombra Mortal ajudassem o mestre do clã deles, o resultado provavelmente não seria diferente. No máximo, durariam um pouco mais de tempo, afinal a diferença não era de apenas uma pequena camada, foi uma mudança de reino. Ele só podia suspirar, nesse mundo tudo realmente se resumia a força.
“Apesar de a Academia Celestial desejar a paz e ter poupado a maioria dos inimigos, alguns foram exterminados.” Continuou Flora, com a voz fria.
Os olhos de Kael se fixaram nela novamente, esperando que continuasse.
“O Clã Kingdom.”
Ouvindo isso, as pupilas de Kael encolheram. Ele não precisava perguntar para saber o motivo de isso ter acontecido.
Quando estava no Clã Mu, Kael vagou pela floresta e encontrou uma pequena cidade e presenciou as atrocidades que aconteciam naquele lugar. Inclusive, as pessoas que ele resgatou naquele momento se tornaram os primeiros residentes de seu pequeno mundo.
Kael uma vez se perguntou se aquele lugar era uma exceção ou se todo o Clã Kingdom era composto por degenerados nojentos. Sua pergunta foi respondida agora.
Com suas perguntas respondidas, Kael partiu para encontrar as garotas. Como a guerra havia acabado, todas estavam juntas, ele mal podia esperar para revê-las.
*
Em um lugar muito distante de onde Kael estava, em outro mundo.
Uma criada estava correndo com todas as suas forças e invadiu uma sala, ofegante, mas com um grande sorriso no rosto.
“Senhor!! Senhora!!” Gritou.
Dentro da sala estavam duas pessoas, um homem e uma mulher. Ambos não pareciam ser muito velhos, na casa dos 30 anos, no máximo. Claro, isso podia ser devido aos seus níveis de cultivo.
Ao verem a criada entrar daquela forma, os dois franziram a sobrancelha, claramente descontentes com tal comportamento rude e deselegante.
“Senhor, senhora... A senhorita...” A criada lutou para falar. Sua respiração acelerada, as palavras mal saíam.
Vendo-a naquele estado, a expressão da mulher que estava na sala suavizou um pouco.
Ela percebeu que deveria ser algo muito importante, então se aproximou da criada.
“Calma, respire, você não conseguirá explicar nada nesse estado.” Disse ela.
A criada olhou para a senhora, ainda ofegante, e acenou. Ela colocou uma mão no peito e respirou fundo, sua calma retornando.
Os dois senhores ficaram em silêncio. Quando viram que a criada havia recuperado a compostura, o homem falou: “Agora diga-nos o que aconteceu.”
A criada pareceu lembrar o que tinha vindo fazer e sua expressão se iluminou novamente.
“A senhorita, a senhorita retornou!!” Disse, quase gritando.
O homem franziu a testa.
“Que senhorita?” Questionou.
“A senhoria Hua Fei, que esteve presa no Mundo do Samsara por mais de 10 anos!!” A criada falou novamente.
O homem e a mulher estremeceram, lágrimas escorreram de seus olhos. Hua Fei, a filha que eles pensaram que haviam perdido para sempre, conseguiu sair do Mundo do Samsara.

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