220-Luz no Fim do Túnel
- Rafael_Fera
- 21 de fev.
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Atualizado: 21 de fev.
Kael já estava tomado pela frustração, sem ter a quem desabafar; agora, aqueles cultivadores ousaram atacá-lo e ainda tiveram a audácia de pedir misericórdia – seus destinos já eram esperados.
Depois disso, Kael decidiu correr por conta própria, pois já havia se recuperado um pouco e queria aliviar a pressão sobre Lia, que também não se encontrava em boas condições e gastava energia para carregá-lo, além de Yan Xi.
A jornada do trio foi bastante turbulenta, com cultivadores surgindo de todos os lados para atacá-los. Lia e Kael não demonstraram a mínima piedade, destruindo todos que ousassem bloquear seu caminho. Contudo, era inevitável que se desgastassem ainda mais; e, dessa vez, apesar do massacre realizado pelos dois, os cultivadores seguintes mantinham uma tênue esperança, acreditando que eles já estavam fracos o suficiente para serem derrotados.
Kael estava ofegante, com o corpo encharcado de suor. Suas mãos tremiam levemente e sua visão encontrava-se um pouco desfocada; Lia, por sua vez, não estava em uma situação muito melhor, pois haviam acabado de derrotar mais um grupo de cultivadores. Uma batalha contra cultivadores do Reino da Condensação e alguns do Núcleo Espiritual – confronto que normalmente seria relativamente fácil e terminaria em um instante – arrastou-se por vários minutos, ambos até receberam mais alguns ferimentos.
Quando começaram a correr novamente, Lia tropeçou.
"Lia!" Gritou Kael, correndo para segurá-la.
Lia desabou nos braços de Kael, com o rosto completamente pálido e a respiração pesada.
"Seu corpo está gelado!" Disse Kael, com o rosto repleto de ansiedade.
Lia havia gasto uma grande quantidade de energia para provocar aquela explosão; além de ter recebido inúmeros ferimentos no processo, ela ainda voou por um longo período e auxiliou Kael nas batalhas que se seguiram. Nesse momento, encontrava-se completamente exausta.
Kael pousou a mão no peito dela e começou a enviar energia para estabilizá-la. Lia lutava para manter os olhos abertos enquanto tentava olhar para ele.
"Descanse um pouco, eu a carregarei," disse ele, com voz suave.
Lia quis recusar, mas seu corpo estava exausto; ela fechou os olhos e sua cabeça caiu para o lado.
Kael cerrou os punhos, olhou para cima, fechou os olhos e respirou fundo; ao se acalmar, retomou a corrida, carregando Lia em seus braços. Ele sabia que não podia parar por muito tempo, pois os perseguidores não lhes dariam trégua.
Os oponentes continuavam surgindo em seu caminho; Kael esgotou consideravelmente o poder de sua alma, utilizando os Olhos de Deus para matá-los com ataques mentais. Ele evitava, sempre que possível, batalhas diretas, a fim de minimizar os danos causados ao corpo fragilizado de Lia. Apenas quando os inimigos se mostravam um pouco mais fortes era que se via obrigado a enfrentar o combate de frente, enquanto carregava Yan Xi em suas costas e Lia em um dos braços. Era, sem dúvida, uma situação desesperadora, mas ele conseguia, de alguma forma, prevalecer.
Entretanto, Kael estava ainda mais exausto, tanto física quanto mentalmente. Nesse momento, ele sentiu a aproximação de novas presenças; ao olhar para trás, seu coração afundou.
"Eles... nos alcançaram..." Disse ele, inundado pelo desespero.
Yan Xi respirou fundo, preparando-se para o pior. Ela não conseguia olhar para trás, mas sabia exatamente de quem Kael estava falando.
*
Qiang Lei e os demais aproximavam-se em alta velocidade, com os olhos sedentos de sangue fixos em Kael.
"Nós finalmente os alcançamos!" Exclamou um dos cultivadores.
"Não acredito que demoramos quatro dias para encontrá-los novamente," disse outro, com uma expressão sombria.
Normalmente, teriam alcançado Kael e Lia em apenas algumas horas, no máximo, mas agora, tendo gasto tanta energia estabilizando seus ferimentos, acabaram ficando bastante para trás.
"Aqueles dois também estavam bastante machucados; como conseguiram continuar fugindo tão rápido?" Questionou outro cultivador, intrigado.
Pela lógica, eles estavam feridos, mas Kael e Lia também estavam; se tiveram que diminuir a velocidade para cuidar melhor dos ferimentos e recuperar um pouco de energia, o mesmo deveria ter acontecido com os dois, sem mencionar que estavam sendo atrasados pelos cultivadores de outros clãs.
Qiang Lei respondeu à pergunta: "Apesar de Kael ter sido ferido, suas feridas não eram tão sérias quanto as nossas. Quanto àquela mulher, apesar de ela ter se machucado – aquela era sua técnica, afinal –, ela conseguiu se sair melhor do que nós; além disso, ela não se preocupou em cuidar de seus ferimentos adequadamente, nem em conservar energia. Basta olhar para o seu estado agora."
Todos olharam para Lia, que repousava nos braços de Kael, e concordaram: se os dois tivessem diminuído a velocidade, cuidado melhor dos ferimentos e recuperado um pouco de energia, não estariam naquele estado; mas, se tivessem feito isso, já teriam sido alcançados há muito tempo. Basicamente, não lhes restava outra opção a não ser se esforçar além de seus limites.
O grupo aproximava-se cada vez mais de Kael, que utilizava desesperadamente os Passos do Vazio. O sol quente brilhava intensamente em seu rosto, queimando sua pele; a elevada temperatura tornava a jornada ainda mais difícil.
De repente, ele sentiu algo se aproximando e pulou para o lado. Uma grande lâmina de energia atingiu o local onde estava e, em seguida, outra veio, forçando-o a desviar novamente. Os oponentes aproximavam-se e, agora, iniciavam seus ataques; enquanto Kael realizava movimentos para desviar, sua velocidade diminuía a cada instante.
"Pare com a resistência inútil, você não tem para onde fugir! Além disso, essa mulher já não está em condições de lutar e não conseguirá nos impedir!" Gritou Qiang Lei.
Kael não respondeu; apenas fixou o olhar no rosto de Lia, que repousava em seus braços, depois virou a cabeça e dirigiu seu olhar para o semblante resoluto de Yan Xi, que se destacava em suas costas. Fechou os olhos e suspirou.
"Parece que desta vez é realmente o fim," pensou ele.
Mas, em seguida, seus olhos brilharam loucamente. Mesmo que aquele fosse de fato o fim, ele lutaria até seu último suspiro.
Enquanto Kael reafirmava sua determinação, um barulho estranho invadiu o ambiente; ele ergueu a cabeça e olhou para frente. Embora ainda não visse nada, o som tornava-se cada vez mais intenso – o choque de armas, explosões e gritos mesclavam-se em um coro ensurdecedor.
*
"Acabem com eles!!!"
"Aaaaaaa!!"
"Morraaaa!!"
"Entrem em formação!!"
"Reforcem o flanco esquerdo!!"
A batalha sangrenta que se arrastava há bastante tempo continuava tão feroz quanto antes. Os dois lados estavam profundamente enredados em combates cruéis e mortais, onde cada golpe, cada grito, contribuía para um cenário de caos e sangue.
O comandante do exército do Clã Sombra Mortal permanecia de pé na retaguarda, observando a luta com um olhar frio e calculista. De repente, um homem aproximou-se rapidamente, ajoelhou-se e juntou as mãos em sinal de respeito e urgência.
"Comandante, o capitão Fil sofreu uma grande quantidade de baixas e solicita reforços," informou o homem, com a voz carregada de apreensão.
Sem sequer levantar o olhar, o comandante respondeu com calma:
"Diga a ele para segurar por mais um tempo. Os adversários também sofreram muitas baixas; a batalha ainda é administrável."
O homem curvou-se levemente e saiu a toda pressa para transmitir as ordens. Logo em seguida, outro se aproximou, ajoelhando-se e exclamando com veemência: "Relatório!!"
"Notamos algumas pessoas aproximando-se da nossa retaguarda!" continuou o novo mensageiro, demonstrando preocupação.
"O quê? Quantos são? Quais são suas forças?" Questionou o comandante, com o semblante tenso e apreensivo.
O homem revelou uma expressão estranha antes de responder:
"São apenas nove pessoas no total. Três cultivadores, oriundos do Reino da Condensação e do Núcleo Espiritual, estão sendo perseguidos por seis cultivadores do Reino da Alma Nascente, que, aparentemente, pertencem ao nosso próprio Clã Sombra Mortal."
O comandante e seus oficiais ficaram ainda mais estupefatos com a informação. Por que diabos, seis cultivadores da Alma Nascente se uniriam para perseguir alguns cultivadores de reinos de cultivo inferiores?
Contudo, o comandante não ocupava aquela posição sem motivo; recuperando-se rapidamente, ele emitiu as ordens sem hesitação:
"Enviem alguns homens para interceptarem esses três cultivadores. Se membros do nosso clã estão tentando capturá-los, não podemos deixá-los fugir."
O homem recebeu as ordens e partiu imediatamente.
*
No acampamento da Academia Celestial, um homem levantou a voz: "Relatório!"
"Atrás do exército inimigo, três cultivadores do Núcleo Espiritual e do Reino da Condensação, estão sendo perseguidos por seis cultivadores da Alma Nascente. Os oponentes destacaram uma parte de suas forças e pretendem interceptá-los," continuou, descrevendo a situação com precisão.
"São eles!" Declarou o comandante, os olhos brilhando com determinação.
"Mas, comandante, não eram duas pessoas que precisávamos ajudar?" Questionou um dos capitães, surpreso com a informação.
O comandante balançou a cabeça e replicou: "Há alguns dias, recebi a informação de que agora são três pessoas; a descrição confere."
Imediatamente, ordenou com voz firme: "Não percam tempo! Todos os capitães devem mover-se pessoalmente, assim como qualquer outro membro da Alma Nascente. Resgatem aqueles três!"
"Sim!" Responderam todos em uníssono, e, sem perder tempo, começaram a reunir seus homens.
Em pouco tempo, uma cena magnífica se desenrolou: mais de dez cultivadores da Alma Nascente ergueram voo e atravessaram o exército inimigo com destreza e precisão.
*
A movimentação dos dois exércitos chamou a atenção de todo o pessoal no meio da batalha, deixando-os estupefatos, principalmente com as ações do exército da Academia Celestial – inclusive os seus próprios aliados.
O comandante inimigo também se mostrou perplexo. Os cultivadores da Alma Nascente, os mais poderosos daquela batalha, raramente se moviam, muito menos os próprios capitães; porém, agora, a Academia Celestial mobilizava todos eles de uma só vez, um movimento que beirava o inacreditável.
O problema residia no fato de que o Clã Sombra Mortal jamais imaginara que Kael conseguiria chegar até ali. Diferentemente da Academia Celestial, nenhuma informação foi passada aos homens na linha de frente, senão o comandante inimigo também teria agido de forma mais decisiva. Porém, mesmo sem compreender completamente a situação, reagiu conforme os acontecimentos, mobilizando seus cultivadores da Alma Nascente para impedir que os adversários realizassem qualquer ação que estivessem planejando.
Uma batalha ainda mais sangrenta e decisiva estava prestes a começar.

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