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237-Nova Vida

  • Foto do escritor: Rafael_Fera
    Rafael_Fera
  • 15 de mai.
  • 7 min de leitura

Atualizado: 16 de mai.

Kael sentiu sua consciência vagando. Ele não conseguia ver nada, nem sentir nada; era como se não tivesse corpo. Não se sabia quanto tempo havia se passado, talvez alguns dias, alguns meses ou anos. Ele apenas sentia como se sua consciência estivesse flutuando sem rumo, e não conseguia pensar em nada específico. Era como se estivesse estático, apenas tendo a sensação de vagar incessantemente.


Quando finalmente abriu os olhos, ocorreu o mesmo da última vez: várias memórias começaram a invadir sua mente. Porém, dessa vez, Kael não estava prestando atenção a essas memórias, porque a última experiência ainda estava completamente fresca em sua mente.


Kael ficou sentado, atordoado, sentindo um grande desconforto e uma dor no peito. As cenas da morte de sua família continuavam passando como um filme.


Ele não podia dizer que aquilo era apenas uma ilusão, apenas algo que aconteceu no mundo do Samsara. Aquelas memórias e experiências eram muito reais, tão reais que chegava a ser assustador.


"Não pude fazer nada, nem terei a chance de me vingar..." pensou.


Ele já morreu e não poderá voltar para aquele mundo. Sua vida e, muito provavelmente, a linhagem de sua família foram encerradas naquele momento.


"Uma situação inevitável."


Foi essa a conclusão a que Kael chegou. Ele entendeu que simplesmente não havia nada que pudesse fazer para impedir o que aconteceu. Ele tinha acabado de despertar naquele mundo, ainda não tinha cultivado corretamente, e um desastre caiu em velocidade relâmpago. Mesmo que tivesse outra chance, não conseguiria fazer nada para mudar isso. Basicamente, ele foi despertado em um mundo em que estava destinado a morrer.


Mesmo sabendo disso, Kael ainda estava resignado. Ele não conseguia aceitar. Mas quantos gênios morrem de repente, sem conseguirem amadurecer? Quantos clãs são destruídos de uma hora para a outra?


O mundo é cheio de conflitos, e pessoas e clãs estão desaparecendo o tempo todo. O que Kael vivenciou pode muito bem ser vivenciado por outros em algum lugar. O mundo não é justo, e nem todos poderão escapar da destruição.


Kael ficou meio dia sentado em silêncio, acalmando suas emoções. Só depois ele começou a contemplar suas novas memórias.


Dessa vez, ele era ainda mais novo do que antes: tinha apenas 7 anos. A divisão dos níveis de cultivo é semelhante à da vida anterior: humano, terra e céu. Porém, cada nível é dividido em nove camadas.


Outra coisa diferente é que o método de cultivo é determinado automaticamente. Quando completa 8 anos, o cultivador "desperta" um método de cultivo próprio, e é a partir daí que ele começa a se desenvolver. Apenas depois de atingir um certo nível, o cultivador consegue começar a desenvolver novos métodos ou técnicas.


A propósito, nessa vida, seu nome ainda era Kael.


"Será que isso tem algo a ver com o karma?" Kael murmurou baixinho.


"Eu não saí do mundo do Samsara mesmo depois de morrer. Realmente não tenho ideia de como voltar."


A situação no mundo do Samsara era realmente complicada, sem falar nas situações imprevisíveis que podia enfrentar, Kael não tinha ideia de como sair, já que nem a morte proporcionou isso. Mas ele decidiu que não adiantava nada ficar pensando nisso. Em algum momento, ele deve encontrar a resposta.


*


Kael agora tinha 15 anos. Algumas situações imprevistas ocorreram: no seu aniversário de 8 anos, ele anunciou que não havia despertado nenhum método de cultivo, o que gerou uma grande decepção. Afinal, nessa vida, ele era o filho único do mestre do clã. Toda a esperança da família estava concentrada nele. Além disso, seu clã era um grande poder local.


Mesmo assim, Kael não era desprezado. Sua família o tratava bem e o clã agia como se tudo estivesse normal. Ele não sabia ao certo como se sentir em relação a isso. Sentia que decepcionou a todos, mas ninguém parecia se importar. Ele ainda era o jovem mestre do clã, tão respeitado quanto antes.


"Em minhas três vidas, fui o filho do mestre do clã." Essa constatação passou pela mente de Kael.


Era realmente assim, porém, em cada vida, as coisas aconteceram de forma diferente: em sua "vida real", mesmo sendo filho do mestre do clã, ele era desprezado por não cultivar — apenas sua família o acolhia. Em sua primeira vida no mundo do Samsara, ele podia cultivar, mas não era o mais talentoso dos filhos. Mesmo assim, era bem tratado. Infelizmente, essa sua vida foi extremamente curta. E agora, em sua segunda vida no mundo do Samsara, ele não podia cultivar, porém também recebeu um bom tratamento.


Nessa vida, Kael agia de forma semelhante à sua vida fora do mundo do Samsara: ele estudava e treinava, tentando encontrar uma solução para sua situação.


Ele tentou vários métodos, como cultivar igual ao seu mundo original, ou cultivar absorvendo a energia das estrelas, como em sua segunda vida. Infelizmente, nada funcionou. Esse mundo tinha suas próprias regras, e ele não conseguia burlá-las facilmente.


Nesse momento, Kael estava em uma floresta, fazendo um treinamento físico. Ele corria, golpeava as árvores, treinava movimentos de luta, carregava pesos...


A sensação era bastante familiar para ele. Era reconfortante sentir o vento e ouvir o som da floresta, os animais e os pássaros cantando. O sol que passava pela copa das árvores e atingia seu corpo tinha uma temperatura agradável.


Depois de ficar completamente exausto, Kael pulou em um rio para se lavar. A água fresca parecia lhe dar uma nova vida.


Quando terminou, Kael fez seu caminho de volta, retornando para casa.


Kael fazia parte do clã Lótus, um dos cinco clãs mais poderosos da região. O território do clã era enorme, e existiam muitos cultivadores em suas fileiras. A situação era semelhante à do seu mundo real: além das pessoas relacionadas por sangue, o clã recrutava pessoas talentosas para complementar suas forças.


Como um clã poderoso, obviamente sempre que havia recrutamento as pessoas faziam fila para tentar. Então, não faltava "carne fresca".


"Jovem mestre Kael, terminou seu treinamento?" Uma senhora perguntou com um sorriso no rosto quando Kael passou por ela.


"Sim, me exercitei bastante. Agora é hora de voltar para minha pesquisa." Kael também revelou um sorriso.


"Certo, continue se esforçando." A senhora o encorajou e lançou uma maçã para ele.


Todas as pessoas do clã sabiam que Kael não podia cultivar, mas também sabiam que ele estava o tempo todo treinando seu corpo e estudando, tentando achar uma solução. Muitas pessoas ficaram impressionadas com sua tenacidade, e muitos o encorajavam.


"Obrigado, senhora, pode deixar!" Kael pegou a maçã e deu uma mordida, antes de continuar seu caminho.


Kael ainda tinha um sorriso no rosto. Essa situação realmente era diferente do que ele havia imaginado. Na sua "vida anterior", ele pensou que se fizesse parte de um clã poderoso e fosse inútil, seria desprezado e provavelmente abandonado. Mas, como se viu, existem exceções para tudo.


Quando chegou em casa, Kael se encontrou com um homem jovem, aparentando ter cerca de 25 anos. O homem olhou para ele e sorriu.


"Kael, estava te esperando."


"Pai, aconteceu alguma coisa?" Kael perguntou, confuso.


Esse homem era o pai de Kael e líder do clã Lótus, Robert. Apesar de parecer tão jovem, Robert tinha mais de 40 anos. Devido às suas grandes realizações no cultivo, Robert manteve sua aparência jovem.


Porém, normalmente Robert não esperaria por ele na porta, por isso a confusão de Kael.

"Tenho algumas coisas para conversar com você. Vamos entrar." Disse Robert.

Kael assentiu e o seguiu.


Os dois chegaram a uma sala e sentaram à mesa. Uma criada apareceu com uma bandeja e serviu chá para eles antes de se retirar.


"Como está seu estudo? Teve algum progresso?" Robert perguntou calmamente.


Kael suspirou e balançou a cabeça. "Nada ainda. Pai, você e a mãe deveriam ter outro filho para herdar o clã."


Robert franziu um pouco a testa enquanto seus dedos batiam ritmicamente na mesa. "Por que isso seria necessário? Você pode herdar o clã mesmo que não consiga cultivar. Além disso, tudo que você precisa fazer é ter um herdeiro para substituí-lo no futuro.’’


"É... difícil de explicar..." Kael falou um pouco desamparado. Realmente havia coisas que ele não podia falar.


Robert olhou para Kael por um longo tempo antes de falar: "Se você acha que é importante, consideraremos isso."


Ele tinha grande confiança em Kael, não importava se ele pudesse cultivar ou não. Robert estava muito satisfeito com o comportamento e determinação de seu filho. Como Kael disse isso, ele realmente consideraria ter outro filho, mas ainda queria que Kael fosse o próximo líder do clã. Se decidisse seguir com isso, era apenas para se precaver contra situações imprevistas.


Ouvindo isso, Kael ficou um pouco aliviado.


"Mas, na verdade, não era por isso que eu queria falar com você." Continuou Robert.


Como Robert começou a conversa daquela forma, Kael pensou que ele estava preocupado com seu cultivo, mas parece que não era o caso. Ele ficou em silêncio e esperou que Robert continuasse.


"Sua noiva nos fará uma visita. Esteja preparado."


Kael não ficou particularmente surpreso com essas palavras. Ele estava ciente de que tinha uma noiva. Seu casamento havia sido decidido antes mesmo de ele nascer. Sua noiva era filha do líder de outro dos cinco clãs mais poderosos, o clã Roc.


O líder do clã Roc era um grande amigo de seu pai. Por isso, os dois clãs tinham uma ótima relação. Devido a essa grande amizade, os dois líderes decidiram casar seus filhos.


Apesar disso, Kael nunca conheceu essa noiva. Seria a primeira vez que ele a veria.


Ele deu um sorriso zombeteiro. "O que ela pensará ao ter que se casar com alguém que não pode cultivar?"


A mão de Robert, que segurava a xícara, tremeu levemente, mas ele logo se recompôs.


"Não pense nessas coisas. Não ouvi nenhuma palavra sobre estarem insatisfeitos. Vá e esteja pronto para recebê-los, eles devem chegar amanhã."


Kael assentiu e saiu da sala.


Robert continuou olhando para suas costas até que ele desaparecesse.



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