246-A Fúria de Hua Fei
- Rafael_Fera
- 24 de mai.
- 6 min de leitura
Olhando para Kael, Hua Fei percebeu que as bandagens em seu corpo pareciam estar bastante vermelhas, mas essas bandagens deveriam ter sido trocadas há pouco tempo, então não era para estarem daquela forma ainda.
Quando as bandagens são recém-trocadas, elas ficam bastante limpas e brancas; depois de um tempo é que começam a absorver o medicamento e os resquícios de sangue, mudando de cor.
Hua Fei caminhou na direção da criada que estava na liderança e questionou: "as bandagens dele foram trocadas no tempo determinado?"
A criada pareceu surpresa, mas fez uma pequena reverência e respondeu com um sorriso sincero: "senhoria, acabamos esquecendo de trocá-las, mas irei fazer isso agora, não é nenhum probl..."
A voz da criada foi interrompida por um som alto de estalo. Seu corpo voou e girou algumas vezes no ar antes de colidir com uma parede. As outras criadas olharam para a cena, chocadas — todas prenderam a respiração.
A criada lutou para se levantar e olhou para Hua Fei, também chocada. O lado esquerdo de seu rosto tinha uma marca clara de cinco dedos, e sangue escorria pelo canto dos lábios.
"Esse é o meu futuro marido, mas você simplesmente fala que esqueceu de trocar as bandagens e que não é nenhum problema. O que está querendo dizer com isso?" Questionou Hua Fei.
A criada estremeceu ao ver os olhos frios e furiosos que a encaravam, e começou a entrar em pânico.
As criadas sabiam que Hua Fei estava noiva de Kael, mas conheciam sua personalidade fria e acreditavam que ela não se importaria com ele, principalmente pelo fato de ele não conseguir cultivar. Então pensaram que, se fizessem pequenas negligências em seu tratamento, seria uma boa chance de se livrar dele de forma natural.
A verdade era que a maioria das pessoas do clã acreditava que Hua Taixu havia se arrependido do contrato de casamento ao descobrir que Kael não conseguia cultivar, mas não queria quebrar sua promessa e, por isso, deu continuidade ao acordo, prejudicando Hua Fei. Se até as criadas pensavam dessa forma e ousaram agir de forma tão pretensiosa, era possível imaginar a gravidade da situação.
Sem falar que muito pouco tempo se passou desde que Kael chegou ao clã, então pouquíssimas pessoas sabiam por que ele havia se ferido daquela forma. Quando a verdade for revelada, é provável que a opinião de muitas pessoas sobre ele mude — mas isso ainda não aconteceu.
"S-senhorita... me desculpe, eu..." a criada estava apavorada, nunca esperou tal reação de Hua Fei.
Hua Fei virou a cabeça e olhou para a criada ao seu lado. "Levem-na para a prisão. Sua punição será discutida depois."
A criada estremeceu, mas respondeu prontamente: "sim, senhorita!"
Hua Fei entendeu o que essas criadas estavam tentando fazer e ficou realmente furiosa. A situação de Kael era bastante delicada, e qualquer negligência poderia custar sua vida. Essas criadas foram audaciosas o suficiente para tentar prejudicá-lo — se algo acontecesse com ele por influência de seu clã, Hua Fei não conseguiria se perdoar.
Por isso, ela mal resistiu ao impulso de matar àquela criada. As outras também eram culpadas, mas Hua Fei sabia que não podia responsabilizar todas, então a líder assumiria a responsabilidade por isso.
"Senhorita, por favor, me poupe!" Vendo sua colega se aproximando, a criada implorou. Porém, Hua Fei apenas olhou friamente enquanto ela era arrastada para fora do quarto.
Em seguida, olhou para as outras duas: "sigam o procedimento e troquem suas bandagens rapidamente. Se algo acontecer com ele, nenhuma de vocês escapará da punição!"
As criadas, aterrorizadas, correram para realizar o serviço. Hua Fei ficou em silêncio, observando. Ela ainda estava preocupada que esse atraso pudesse causar algum dano, mas não havia nada que pudesse fazer.
"Preciso ficar mais atenta. Nunca imaginei que uma coisa dessas pudesse acontecer." Pensou ela, sentindo-se culpada.
As criadas agiram de forma bastante proficiente. Elas não ousaram mais ser negligentes e foram muito cuidadosas. Todas entenderam que o relacionamento de Hua Fei e Kael não era como imaginavam.
*
Depois que Hua Taixu descobriu o que havia acontecido, também ficou furioso. A criada perdeu completamente seu status e passaria algum tempo na prisão — por pouco não perdeu a vida também.
Planejar contra a vida de uma pessoa importante, seja do próprio clã ou de um estrangeiro, não era algo com que se brincava. Na verdade, tratando-se de um estrangeiro, a situação poderia ser considerada ainda pior. A pena de morte seria algo natural, mas a criada insistia que foi apenas negligência e não havia provas do contrário, então conseguiu manter sua vida.
Bem, outro fator determinante para isso era o fato de haver algumas pessoas de alto escalão que a estavam defendendo. Apesar de seu status ser baixo, a criada em questão pertencia a uma família influente no clã, e eles saíram em sua defesa. Somado ao fato de não ter acontecido nada com Kael, isso resultou numa pena mais branda. Então este incidente foi resolvido assim.
*
No dia seguinte, as pílulas curativas estavam prontas. O alquimista colocou uma na boca de Kael e utilizou sua energia para ajudar na ingestão.
A pílula foi rapidamente digerida, e a energia se espalhou pelo corpo de Kael. De imediato, era possível perceber sua pele, antes pálida, ficando mais corada, e sua respiração tornando-se mais suave.
Depois de avaliar o corpo de Kael novamente, o alquimista deu um suspiro de alívio e olhou para Hua Fei, que estava atrás dele.
"Senhorita, vai ficar tudo bem agora. A pílula ajudou a curar a maior parte do dano em seus órgãos. O dano restante poderá ser tratado com apenas mais um pouco de tempo."
Hua Fei também deu um suspiro, aliviada, então fez uma leve reverência. "Muito obrigada, ancião!"
O alquimista riu e brincou: "não foi nada. Percebi que, se eu deixasse algo acontecer com esse garoto, o mestre do clã não me perdoaria..."
Ele fez uma pausa e continuou: "e a senhorita também não."
O rosto de Hua Fei corou um pouco, sem saber o que dizer. Ela não estava acostumada com esse tipo de situação.
Vendo isso, o alquimista riu ainda mais antes de se despedir e sair do quarto.
A expressão de Hua Fei rapidamente voltou a ficar indiferente. Ela se sentou ao lado da cama que Kael estava deitado. Porém, assim que olhou para ele, percebeu seus cílios tremendo levemente — em seguida, seus olhos se abriram.
Assim que recobrou a consciência, Kael se viu olhando para um teto desconhecido. Então seus olhos começaram a percorrer os arredores até que se encontraram com os de Hua Fei.
Ele disse com um pouco de dificuldade: "você... está bem..."
"Não tente falar, você precisa de repouso." Disse Hua Fei.
Ela se sentia um pouco confusa ao ver o alívio nos olhos de Kael. Assim que acordou, a primeira coisa que ele fez foi se preocupar com a segurança dela, em vez de com seu próprio estado.
"Estou bem. Então nós sobrevivemos." Kael falou novamente. Dessa vez, sua voz saiu com muito mais facilidade.
Hua Fei assentiu. "Sim, graças a você."
A luz nos olhos de Kael escureceu um pouco, e ele sorriu zombeteiramente: "o que eu fiz além de ser um saco de pancadas?"
O corpo de Hua Fei tremeu um pouco. Ela podia ver a dor nos olhos de Kael — a dor vinda do sentimento de impotência.
Kael estava feliz por, de certa forma, ter conseguido manter a segurança da pessoa que queria proteger, mas essa não era a situação que ele queria — uma situação em que não podia fazer nada, e suas vidas estavam nas mãos de outra pessoa.
Ele fechou os olhos e ficou em silêncio. Por um tempo, Hua Fei não soube o que dizer. Depois de um longo silêncio, com a voz um pouco trêmula, ela finalmente perguntou o que estava em sua mente há muito tempo: "por que você se esforçou tanto para me proteger?"
Kael abriu os olhos novamente e olhou para ela com um olhar estranho, respondendo com outra pergunta: "por que eu não deveria?"
Hua Fei congelou.
"Por que eu não deveria...?" Ela repetiu em sua mente, atordoada.
Kael não esperou por uma resposta e continuou: "você será minha esposa. Mesmo que não consumemos o casamento, esse fato não mudará. Além disso, nos tornamos bons amigos, certo? Não existe motivo para eu não tentar protegê-la. E por último: aqueles homens não nos poupariam. Mesmo que eu não fizesse nada, depois de capturá-la, eles teriam matado todos nós."
Kael fez uma pausa para respirar antes de continuar: "então você não precisa se preocupar muito com isso, nem pensar que me deve alguma coisa ou algo do tipo."
Terminando de falar, Kael fechou os olhos novamente. Sua respiração estava um pouco mais rápida — claramente, ainda era exaustivo para ele falar.
Hua Fei percebeu isso e falou: "você acabou de melhorar um pouco e precisa descansar. Voltarei depois."
Quando terminou de falar, Hua Fei se levantou e saiu. As palavras de Kael continuavam ressoando em sua mente; ela não sabia o que pensar.

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